
A menina
Tem os cabelos desgrenhados
Pisa descalça no barro seco
Pula carniça
Faz careta pros vagabundos
Rouba gabiroba do pé do vizinho
Senta à noite na calçada e ouve
O cinema de longe.
Pai não deixa.
Mas a menina sonha.
Insone
Com a cidade grande
Quer ser artista
Chora sem saber.
Tem os olhos abertos
De bicho
Arredio
Dentes que trituram
Fincados na boca.
A menina enxerga o que não se vê.
Gosta das freiras
Desconfia das pessoas
Acredita no amor.
A menina tem o dom
Sabe o que é sutil
Olha pra aquela terra parada
Aquela gente fechada
Aquele mundo pequeno
Não entende tudo o que vê
Não está ali.
A menina vê o mundo
Todo.
Sabe que seu futuro não é ali.
(Pra mamãe Edla, que é tudo isso)
Um comentário:
... e às vêzes me pergunto, por que fui parar lá?!
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